Como Calcular o Preço Teto de uma Ação: Décio Bazin e Luiz Barsi

Preço Teto & Investimentos Lucrativos

O preço teto de uma ação é o valor máximo que um investidor astuto paga, visando um retorno mínimo via dividendos. Dominar como calcular o preço teto de uma ação é crucial: evita pagar caro demais, revela oportunidades e ajuda a construir uma carteira geradora de renda passiva consistente.

Neste artigo, Décio Bazin, autor de “Faça Fortuna com Ações”, e Luiz Barsi, o “Rei dos Dividendos”, são nossos mentores. Seus métodos, testados pelo tempo, são a chave para entender como calcular o preço teto de uma ação, mesmo em mercados desafiadores, mantendo uma relevância impressionante.

Este artigo capacitará você a aplicar com confiança as metodologias de Bazin e Barsi para como calcular o preço teto de uma ação, tornando seus investimentos mais estratégicos e alinhados aos seus objetivos de longo prazo.

Como você já está acostumado aqui no Meia Ficha, iremos direto ao ponto, sem rodeios, e explicaremos como você pode calcular o preço teto de uma ação. Após isso, leia o artigo todo, pois as demais seções possuem os conceitos fundamentais para a compreensão e aprendizado fundamentado desse método.

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Como Calcular o Preço Teto de uma Ação (Método Consolidado)

Cerne da questão: como calcular o preço teto de uma ação de forma prática e aplicável, consolidando os valiosos ensinamentos de Décio Bazin e Luiz Barsi. Este passo a passo visa fornecer um roteiro claro para que você investidor possa realizar suas próprias análises e tomar decisões de investimento mais informadas. É crucial lembrar que o preço teto funciona como um filtro quantitativo inicial, um ponto de partida para uma análise mais aprofundada.

A Fórmula Fundamental do Preço Teto:

A base do cálculo, compartilhada por ambos os mestres, é relativamente simples e direta:

Preço Teto = Dividendos Anuais Esperados por Ação / Dividend Yield Mínimo Desejado

O “Dividend Yield Mínimo Desejado” é, classicamente, 6% (ou 0,06 na forma decimal), um patamar popularizado por Bazin e Barsi como um retorno razoável para compensar o risco do investimento em ações e superar, historicamente, outras alternativas de menor risco.

Passo 1: Coletar o Histórico de Dividendos Pagos pela Empresa

O primeiro passo prático para calcular o preço teto de uma ação é levantar o histórico de dividendos pagos pela empresa que está sendo analisada. Essas informações são públicas e podem ser encontradas em diversas fontes:

  • Sites de Relações com Investidores (RI) das empresas: As companhias listadas na bolsa possuem uma seção de RI em seus websites onde divulgam comunicados, resultados e o histórico de proventos pagos.
  • Plataformas de Análise de Ações: Existem diversas plataformas online, muitas gratuitas, que consolidam dados financeiros das empresas, incluindo o histórico de dividendos. Exemplos incluem Status Invest, Fundamentus e Investidor10.
  • Site da B3: A própria bolsa de valores brasileira (B3) também disponibiliza informações sobre os eventos corporativos, incluindo pagamentos de dividendos.

Exemplo: Site Investidor10, BBAS3

Historico de Dividendos BBAS3 Banco do Brasil e1746556652737

Ao coletar esses dados, é importante observar a consistência e a regularidade dos pagamentos ao longo dos anos. Um histórico de pagamento constante, como por exemplo, nos últimos 5 anos, é um bom indicativo.

Passo 2: Calcular os Dividendos Anuais Esperados por Ação

Este é um ponto crucial e que admite algumas abordagens:

  • Abordagem de Luiz Barsi: Barsi costuma utilizar a média dos dividendos pagos por ação nos últimos 5 ou 6 anos. Essa média ajuda a suavizar flutuações anormais causadas por dividendos extraordinários ou por anos particularmente bons ou ruins, oferecendo uma visão mais conservadora e estável da capacidade de pagamento da empresa.
  • Abordagem de Décio Bazin: Bazin poderia considerar o último dividendo pago, especialmente se este fosse representativo da capacidade atual da empresa, ou também uma média de períodos anteriores. Algumas interpretações de seu método também apontam para o uso do dividendo projetado, caso haja informações confiáveis para tal projeção.

Independentemente da abordagem, é fundamental analisar criticamente os dividendos passados. Eles são sustentáveis? Há perspectivas de crescimento ou de corte nos lucros e, consequentemente, nos dividendos? Dividendos extraordinários, provenientes de eventos não recorrentes como a venda de um ativo, devem ser tratados com cautela ou mesmo excluídos da média para não distorcer o cálculo do preço teto.

Passo 3: Definir o Dividend Yield Mínimo Aceitável

Conforme já mencionado, o padrão de 6% (0,06) é a referência clássica de Bazin e Barsi. No entanto, o investidor tem a prerrogativa de ajustar este percentual. Fatores que podem influenciar essa decisão incluem:

  • Perfil de Risco do Investidor: Investidores mais conservadores podem exigir um yield maior.
  • Alternativas de Investimento: Em cenários de taxas de juros elevadas (Selic alta), um dividend yield de 6% pode parecer menos atrativo em comparação com a renda fixa. O inverso também é verdadeiro.
  • Potencial de Crescimento da Empresa: Para empresas com alto potencial de crescimento nos lucros e dividendos, o investidor pode aceitar um yield inicial um pouco menor, na expectativa de que ele cresça significativamente no futuro.

Passo 4: Aplicar a Fórmula para Encontrar o Preço Teto

Com os “Dividendos Anuais Esperados por Ação” e o “Dividend Yield Mínimo Desejado” definidos, basta aplicar a fórmula.

Exemplo Prático: Suponha que a média dos dividendos anuais por ação de uma empresa X seja de R$ 1,20, e o investidor definiu um dividend yield mínimo desejado de 6%. 

Preço Teto = R$ 1,20 / 0,06 ​= R$ 20,00

Neste caso, R$ 20,00 seria o preço máximo que o investidor estaria disposto a pagar pela ação da empresa X para obter o retorno mínimo esperado de 6% em dividendos. É fundamental frisar que este é o preço MÁXIMO a ser considerado.

Passo 5: Análise Qualitativa Complementar

O cálculo do preço teto é uma ferramenta quantitativa poderosa, mas não deve ser o único critério na decisão de investimento. Como calcular o preço teto de uma ação é apenas uma etapa do processo. É imprescindível complementar essa análise com uma avaliação qualitativa da empresa, que inclua:

  • Nível de Endividamento: Verificar se a empresa possui uma estrutura de capital saudável, conforme os critérios de Bazin (DB/PL < 0,5) ou uma análise geral de sua capacidade de pagamento.
  • Qualidade da Gestão: Avaliar a competência e a transparência da equipe administrativa.
  • Vantagens Competitivas: Identificar se a empresa possui diferenciais que a protejam da concorrência (moats).
  • Perspectivas do Setor: Analisar as tendências e o potencial de crescimento do setor em que a empresa atua.
  • Outros Indicadores de Valor: Embora não centrais para os métodos de Bazin e Barsi focados em dividendos, indicadores como o P/L (Preço/Lucro) podem oferecer insights adicionais sobre o quão “barata” ou “cara” uma ação está em relação aos seus lucros.

A escolha de qual valor de “dividendo” utilizar no cálculo – seja o último pago, a média histórica ou uma projeção – é um ponto que reflete o grau de otimismo ou conservadorismo do investidor, bem como sua análise sobre a previsibilidade dos lucros futuros da empresa. Utilizar uma média histórica, como Barsi sugere com 5-6 anos, tende a ser uma abordagem mais conservadora, pois suaviza picos não recorrentes. Por outro lado, basear-se no último dividendo projetado pode ser mais agressivo se a empresa estiver em uma trajetória de crescimento, ou mais pessimista se estiver enfrentando dificuldades. Essa escolha, embora subjetiva dentro de um método predominantemente quantitativo, é fundamental.

Além disso, é importante reconhecer que o preço teto não é um valor estático. Ele se altera à medida que os dividendos da empresa evoluem e/ou a percepção de risco do investidor (refletida no yield desejado) se modifica. Isso implica a necessidade de recalcular o preço teto periodicamente, alinhando-se à sugestão de Bazin de rebalancear a carteira semestralmente, para garantir que os investimentos continuem atendendo aos critérios estabelecidos.

Para colocar o entendimento na prática, vamos primeiro calcular um caso hipotético e depois, um caso real.

Cálculo do Preço Teto para a AGF3

Para ilustrar o processo, veja um exemplo prático de como calcular o preço teto de uma ação para uma empresa fictícia, “EMPRESA AGF3” (em homenagem ao Barsi, Ações Garantem o Futuro):

PassoDescriçãoAGF3
1. Coletar Dividendos Históricos (por ação)Levantar os dividendos pagos nos últimos 5 anos.Ano 1: R$0,80; Ano 2: R$0,85; Ano 3: R$0,90; Ano 4: R$1,00; Ano 5: R$0,95
2. Calcular Média dos Dividendos AnuaisSomar os dividendos e dividir pelo número de anos (ou usar outra métrica como o último dividendo projetado).(0,80+0,85+0,90+1,00+0,95) / 5 ​= R$0,90 por ação
3. Definir Dividend Yield Mínimo DesejadoEstabelecer o retorno mínimo esperado com dividendos.6% (ou 0,06)
4. Aplicar a Fórmula do Preço TetoPreço Teto = Dividendos Anuais Médios​ / DY Mínimo Desejado Preço Teto = 0,90 / 0,06​
Resultado: Preço Teto CalculadoValor máximo a ser pago pela ação AGF3.R$ 15,00

Este exemplo prático demonstra a aplicação direta da metodologia, capacitando o investidor a replicar o cálculo para as empresas de seu interesse. Agora vamos para algo mais real.

Cálculo do Preço Teto para o Banco do Brasil (BBAS3)

Para solidificar a compreensão de como calcular o preço teto de uma ação segundo o método de Décio Bazin, vamos utilizar um exemplo real com as ações do Banco do Brasil (BBAS3). Para este exemplo, consideraremos que o total de proventos (dividendos e Juros sobre Capital Próprio – JCP) pagos por ação ordinária (BBAS3) com “data com” em 2024 foi de R$ 2,60, conforme coletado no Investidor10.

Passo 1: Identificar o Dividendo Anual por Ação Pago em 2024

Para este cálculo, utilizaremos o valor de R$ 2,60 como o total de proventos por ação pagos por BBAS3 com “data com” no ano de 2024.

Passo 2: Definir o Dividend Yield Mínimo Desejado (Critério Bazin)

Décio Bazin estabeleceu um dividend yield mínimo de 6% ao ano como critério para um bom investimento em ações. Portanto, utilizaremos 0,06 em nossa fórmula.

Passo 3: Aplicar a Fórmula do Preço Teto de Bazin

A fórmula é:

Preço Teto = Dividendo Anual por Ação / Dividend Yield Mínimo Desejado

Substituindo os valores:

Preço Teto (BBAS3 para 2024) = R$ 2,60 / 0,06​
Preço Teto (BBAS3 para 2024) = R$ 43,33

Interpretação:

Considerando os proventos de R$ 2,60 por ação em 2024 e aplicando o método de Décio Bazin, o preço teto para as ações BBAS3 seria de R$ 43,33. Isso significa que, para um investidor que segue estritamente os critérios de Bazin e busca um retorno mínimo de 6% em dividendos com base nesse valor de proventos, R$ 43,33 seria o valor máximo a ser pago por cada ação do Banco do Brasil.

Considerações Adicionais:

  • Cotação Atual: O investidor deveria comparar este preço teto calculado (R$ 43,33) com a cotação da BBAS3 no momento da análise. Se a cotação estivesse abaixo desse valor, a ação poderia ser considerada uma oportunidade de compra segundo este critério específico.
  • Outros Critérios de Bazin: É crucial lembrar que o preço teto é apenas um dos filtros do método Bazin. Para uma decisão de investimento completa, seria necessário verificar também a liquidez da ação e a ausência de notícias negativas relevantes que pudessem comprometer os fundamentos da instituição.
  • Natureza dos Proventos: Ao analisar os dividendos, é sempre bom verificar se houve pagamentos extraordinários que possam ter inflado o valor anual. No caso de bancos, os JCP são uma forma comum de remuneração aos acionistas e são considerados na soma total dos proventos.

Este exemplo prático com o Banco do Brasil ilustra como a fórmula de Décio Bazin pode ser aplicada para se chegar a um preço teto, auxiliando o investidor na sua tomada de decisão sobre como calcular o preço teto de uma ação.

Para deixar ainda mais claro, pensemos: Quantas ações do Banco do Brasil, ou BBAS3, você precisaria adquirir e qual o valor desembolsado para uma renda passiva mensal de R$ 1.000,00?

Renda Mensal de R$ 1.000 com BBAS3

Para tornar o conceito de investimento focado em dividendos mais tangível, vamos simular como um investidor poderia buscar uma renda mensal de R$ 1.000 (ou R$ 12.000,00 anuais) utilizando as ações do Banco do Brasil (BBAS3), com base nos dados e cálculos da seção anterior.

Objetivo: Renda anual de R$ 12.000,00 em dividendos.

Dados Utilizados (Base 2024 – Seção 2):

  • Dividendo Anual por Ação (BBAS3): R$ 2,60
  • Preço Teto Calculado (Método Bazin): R$ 43,33

Passo 1: Calcular o Número de Ações Necessárias.

Para obter a renda anual desejada, dividimos a renda total pelo dividendo pago por cada ação:

Número de Ações = Renda Anual Desejada / Dividendo Anual por Ação​
Número de Ações = R$ 12.000 / R$ 2,60 ​≈ 4.615,38

Como não é possível comprar ações com casas decimais na prática comum, o investidor precisaria arredondar para cima, necessitando de 4.616 ações de BBAS3 para garantir a meta de R$ 12.000,00 anuais em proventos (resultando em R$ 12.001,60).

Passo 2: Calcular o Investimento Total (Considerando o Preço Teto)

Se o investidor conseguisse comprar todas as 4.616 ações exatamente no preço teto calculado de R$ 43,33 (o que é um cenário hipotético, pois o preço de mercado flutua), o investimento total seria:

Investimento Total = Número de Ações × Preço Teto por Ação
Investimento Total = 4.616 × R$ 43,33
Investimento Total = R$ 199.985,28

Lembrando que esse seria o valor máximo a ser pago. Na prática, o mercado oscila e você pode aproveitar bem os momentos de pânico para comprar ótimos ativos a preços satisfatórios (leia aqui como investir em valor).

É crucial ressaltar que este é um exemplo simplificado. Na prática, o investidor deve considerar:

  • Flutuação do Preço: Dificilmente se consegue comprar todas as ações no preço teto exato. Comprar abaixo do preço teto aumenta o dividend yield sobre o capital investido e a margem de segurança.
  • Impostos: Juros sobre Capital Próprio (JCP), que compõem parte dos proventos de bancos, sofrem retenção de 15% de Imposto de Renda na fonte. Dividendos são isentos para pessoa física (até a legislação vigente). Isso reduziria a renda líquida recebida.
  • Reinvestimento: Reinvestir os dividendos recebidos acelera o processo de acumulação e o crescimento da renda futura.
  • Variação dos Dividendos: Os dividendos futuros podem variar conforme os lucros e a política de distribuição da empresa.
  • Critérios Completos: A decisão de investir deve sempre considerar todos os critérios de Bazin (endividamento, notícias, liquidez) e uma análise fundamentalista completa.

Agora que você já aprendeu na prática como calcular o preço teto de uma ação é muito importante conhecer os fundamentos, que Bazin e Barsi formularam para chegar até essas fórmulas simples. Fórmulas simples, porém, pensamentos implícitos e complexos!

Décio Bazin e a Arte de “Fazer Fortuna com Ações”

Decio Bazin no Meia Ficha

Décio Bazin, uma figura emblemática no mercado de capitais brasileiro, foi jornalista, analista de mercado e um investidor perspicaz. Sua obra mais conhecida, “Faça Fortuna com Ações – Antes que Seja Tarde”, publicada originalmente em 1992, tornou-se um verdadeiro clássico e uma leitura obrigatória para aqueles que buscam investir com foco no longo prazo e na geração de renda através de dividendos. O livro não apenas apresenta um método, mas também reflete a vasta experiência de Bazin e suas opiniões, por vezes críticas, sobre o ambiente da Bolsa de Valores.

A metodologia de Bazin para a seleção de ações e, consequentemente, para como calcular o preço teto de uma ação, repousa sobre alguns pilares fundamentais, desenhados para identificar empresas sólidas e boas pagadoras de proventos.

Os Critérios Fundamentais de Bazin para Seleção de Ações:

  • Dividend Yield (Cash Yield) Mínimo de 6% ao Ano: Este é, sem dúvida, o critério central do método de Bazin. Ele preconizava que, para justificar o risco inerente à renda variável, uma ação deveria oferecer um retorno em dividendos de, no mínimo, 6% ao ano. Essa taxa era comparável ao rendimento de aplicações consideradas seguras na época. Uma particularidade interessante de sua abordagem, especialmente relevante dado o histórico inflacionário brasileiro, era a sugestão de calcular o Cash Yield dolarizado, para uma análise mais precisa do retorno real.
  • Baixo Endividamento: Bazin dava preferência a empresas com “endividamento moderado”. Interpretações mais recentes de seu método especificam um indicador de Dívida Bruta sobre Patrimônio Líquido (DB/PL) inferior a 0,5, ou seja, a dívida bruta não deveria ultrapassar 50% do patrimônio líquido da empresa. Este critério visa garantir a solidez financeira e a capacidade da empresa de honrar seus compromissos e continuar distribuindo lucros.
  • Ausência de Notícias Negativas Comprometedoras: Um aspecto qualitativo crucial do método Bazin era a recomendação de vender “imediatamente” os papéis de uma empresa caso surgissem notícias negativas que pudessem comprometer de forma significativa seus resultados futuros. A ênfase de Bazin na “ausência de notícias negativas” e sua crítica contundente aos especuladores e manipuladores de mercado revelam uma profunda desconfiança no “humor” do mercado e uma preferência por fundamentos sólidos e transparentes. Tendo vivenciado períodos de grande volatilidade e manipulação na bolsa brasileira, sua estratégia buscava isolar o investidor desses “perigos da ganância”, focando em empresas que provassem seu valor através de pagamentos consistentes.
  • Liquidez Adequada: O investidor deveria priorizar ações que possuíssem boa liquidez, ou seja, um volume de negociação satisfatório na Bolsa de Valores, facilitando a compra e a venda dos papéis quando necessário.
  • Rebalanceamento Semestral e Venda Estratégica: A disciplina era um componente chave. Bazin sugeria uma revisão da carteira de ações semestralmente, preferencialmente nos meses de abril e outubro, períodos em que a maioria das empresas geralmente já teria efetuado o pagamento de dividendos do ano. Caso uma ação deixasse de apresentar um Cash Yield de pelo menos 6% ao ano por dois semestres consecutivos, ela deveria ser vendida, mesmo que isso implicasse na realização de lucro com a valorização do papel. Este ponto demonstra que o método Bazin é um sistema de value investing dinâmico, e não puramente passivo. A regra de vender ações que não cumprem os critérios de dividendos por dois semestres evidencia uma disciplina ativa para proteger o capital e otimizar o retorno da carteira, contrastando com a ideia de simplesmente “comprar e esquecer”. Bazin não se apegava a uma ação se ela deixasse de entregar o principal: renda via dividendos. Sua prioridade era o cash-yield.

A filosofia de Bazin é perfeitamente encapsulada em uma de suas citações mais emblemáticas:

“Um papel tem que gerar dinheiro. Investir capital num papel que não gera capital equivale a comprar uma pintura, pregá-la na parede e esperar que se valorize ou que imediatamente apareça alguém que se interesse por comprá-la a preço maior.”

Esta frase sublinha a aversão de Bazin à especulação pura e seu foco inabalável no retorno tangível e concreto – os dividendos – que um investimento deve proporcionar.

No que tange especificamente a como calcular o preço teto de uma ação, a abordagem de Bazin é uma derivação direta do dividendo esperado e do seu yield mínimo de 6%. A fórmula implícita é:

Preço Teto = Dividendo Anual por Ação / 0,06​

Outra forma de expressar essa relação, encontrada em algumas interpretações, é Preço Teto = Dividend Yield Médio × 16,67, onde 16,67 é o inverso multiplicativo de 6% (ou seja, 1/0,06). Confesso que esse é o que eu mais utilizo. Adicionalmente, o conceito de “Preço Justo (Bazin)” é por vezes mencionado como sendo superior a 1,5 vezes o preço atual da ação, o que formaliza a busca por uma margem de segurança substancial, um pilar do value investing. Pagar significativamente menos do que o valor intrínseco percebido, que é baseado no potencial de dividendos, oferece uma proteção contra erros de avaliação e flutuações inesperadas do mercado, ecoando os princípios de Benjamin Graham.

Em suma, Décio Bazin legou aos investidores um método robusto e disciplinado, focado na geração de renda através de dividendos de empresas sólidas e pouco endividadas, sempre com um olhar atento ao preço pago pelo ativo.

Luiz Barsi: A Estratégia do “Rei dos Dividendos” para uma Carteira Previdenciária

Luiz Barsi no Meia Ficha

Luiz Barsi Filho, carinhosamente apelidado de “Rei dos Dividendos”, é amplamente reconhecido como o maior investidor pessoa física da Bolsa de Valores brasileira. Sua trajetória é uma inspiração e sua filosofia de investimento, lapidada ao longo de mais de cinco décadas de atuação no mercado, tornou-se um farol para aqueles que buscam a independência financeira através da renda passiva gerada por ações.

A Filosofia de Luiz Barsi

O cerne da estratégia de Barsi reside em uma visão de investimento de longuíssimo prazo, quase perpétua, com o objetivo primordial de construir uma fonte de renda passiva robusta e crescente, alimentada pelos dividendos distribuídos por empresas sólidas e perenes. Para Barsi, investir em ações transcende a mera aquisição de papéis; significa tornar-se sócio de bons projetos empresariais. Essa mentalidade de “pequeno dono” é fundamental, pois reduz a ansiedade com as flutuações de cotação de curto prazo e direciona o foco para o crescimento da renda e o acúmulo de participação nas empresas (leia esse artigo aqui sobre value investing).

A “Carteira Previdenciária de Ações”

Este é o conceito central da filosofia de Barsi. Trata-se da construção disciplinada de um portfólio de ações de empresas criteriosamente selecionadas, com histórico consistente de lucros e distribuição de dividendos, capaz de prover o sustento do investidor durante a aposentadoria e, idealmente, ser um legado para as futuras gerações. Uma das primeiras formulações de sua metodologia sugeria a compra de 1.000 ações da mesma empresa todos os meses, com o reinvestimento sistemático dos dividendos recebidos, criando um poderoso efeito de bola de neve. Para isso, ele criou o método BEST.

O Método BEST

Para guiar a seleção de empresas para sua carteira previdenciária, Barsi desenvolveu o Método BEST, um acrônimo que aponta para setores da economia considerados perenes, essenciais e com maior previsibilidade de resultados e, consequentemente, de dividendos:

  • Bancos: Instituições financeiras são pilares da economia.
  • Energia: Empresas do setor elétrico (geração, transmissão e distribuição) possuem demanda constante.
  • Saneamento / Seguros: Setores com serviços essenciais e contratos de longo prazo (saneamento) ou com grande potencial de crescimento e resiliência (seguros).
  • Telecomunicações: Serviços de comunicação cada vez mais indispensáveis na sociedade moderna.

O Método BEST não é apenas uma lista de setores preferenciais, mas uma estratégia inteligente de mitigação de risco. Ao concentrar investimentos em negócios com demanda constante, e muitas vezes protegidos por contratos de longo prazo ou significativas barreiras de entrada, Barsi visa assegurar a resiliência de sua carteira previdenciária e a continuidade do fluxo de dividendos. A crítica de Barsi à renda fixa, frequentemente chamada por ele de “perda fixa”, é uma provocação calculada. Ele argumenta que, embora a renda fixa aparente segurança, seu retorno nominal pode não superar a inflação real e a desvalorização da moeda em determinados cenários, enquanto os dividendos de empresas lucrativas e bem administradas tendem a crescer com o tempo, protegendo e potencialmente aumentando o poder de compra do investidor no longo prazo.

A essência da estratégia de Barsi pode ser compreendida em suas próprias palavras:

“O objetivo é viver dos lucros da empresa, não da venda das ações. […] A Klabin (KLBN11) me ensinou que os dividendos são ganhos com base na quantidade de ações possuídas e não no valor investido.”

Esta citação é reveladora: o foco está na renda gerada (os dividendos) e no acúmulo progressivo de ativos (a quantidade de ações), e não na valorização do capital com o intuito de venda futura.

A Abordagem de Barsi para o Preço Teto

No que diz respeito a como calcular o preço teto de uma ação, a abordagem de Luiz Barsi é conceitualmente similar à de Décio Bazin. Ele também utiliza como critério fundamental um dividend yield (rendimento do dividendo) desejado, classicamente estabelecido em 6% ao ano, para determinar o preço máximo que considera justo pagar por uma ação. A fórmula básica é:

Preço Teto = Dividendos Projetados (ou média histórica) / 0,06​

Uma particularidade da aplicação de Barsi é a utilização da média dos dividendos pagos pela empresa nos últimos cinco ou seis anos para o cálculo dos “Dividendos Projetados”. Essa prática visa suavizar eventuais distorções causadas por pagamentos extraordinários ou por anos atípicos, buscando uma base mais estável e representativa da capacidade de geração de dividendos da empresa.

Assim, a estratégia de Luiz Barsi oferece um caminho disciplinado e de longo prazo para a independência financeira, baseado na seleção de empresas de setores perenes, no reinvestimento constante de dividendos e na definição de um preço teto que garanta um retorno mínimo satisfatório sobre o capital investido. Vejamos agora, as diferenças e semelhanças entre os métodos Bazin e Barsi.

Semelhanças e Diferenças: Bazin vs. Barsi 

Embora Décio Bazin e Luiz Barsi sejam frequentemente citados em conjunto como grandes defensores do investimento focado em dividendos, e ambos utilizem o conceito de preço teto, existem nuances em suas filosofias e métodos que merecem ser exploradas. Compreender esses pontos de contato e as distinções pode enriquecer a perspectiva do investidor ao decidir como calcular o preço teto de uma ação e qual abordagem melhor se adapta ao seu perfil.

Pontos em Comum:

  • Foco Primordial em Dividendos: Tanto Bazin quanto Barsi colocam os dividendos no centro de suas estratégias de investimento. Para eles, os dividendos não são apenas um “extra”, mas a principal forma de retorno e um critério decisivo na seleção de ações.
  • Dividend Yield Mínimo de 6%: Ambos popularizaram a utilização de um dividend yield mínimo desejado de 6% ao ano como referência para o cálculo do preço teto. Esse percentual serve como um balizador para determinar se uma ação está sendo negociada a um preço atrativo em termos de geração de renda.
  • Visão de Longo Prazo: As estratégias de ambos são fundamentalmente orientadas para o longo prazo, embora com diferentes ênfases nas regras de manutenção ou venda dos ativos.
  • Aversão à Especulação de Curto Prazo: Tanto Bazin quanto Barsi desencorajam a especulação baseada em movimentos de mercado de curto prazo, preferindo ancorar as decisões de investimento em fundamentos sólidos das empresas. Ambos os métodos, apesar de suas origens em épocas distintas, fornecem uma estrutura robusta contra os vieses comportamentais comuns no investimento, como seguir a manada ou reagir exageradamente a notícias de curto prazo. Ao definir um preço teto e critérios claros de entrada (e para Bazin, de saída), o investidor possui um plano, o que reduz a tomada de decisão emocional, um perigo sobre o qual Bazin já alertava.

Diferenças Sutis:

  • Critérios de Venda e Manutenção: Aqui reside uma das distinções mais notáveis. Décio Bazin era mais pragmático em relação à venda: se uma ação deixasse de atender ao critério de dividend yield de 6% por dois semestres consecutivos, ele recomendava a venda, mesmo que para realizar lucro com a valorização. Luiz Barsi, por outro lado, adota uma filosofia de “buy and hold” (comprar e manter) mais arraigada, focando na perenidade dos setores e na acumulação de um número cada vez maior de ações de boas empresas, quase como um colecionador de ativos geradores de renda. A aparente divergência na filosofia de venda pode ser parcialmente explicada pelo foco de Bazin no cash-yield como um retorno imediato e constante. Se a “galinha” (a ação) parasse de botar “ovos” (dividendos) na taxa esperada, ele a trocaria. Barsi, em contrapartida, parece confiar mais na capacidade de “galinhas” de setores perenes de continuarem botando ovos e até aumentarem a produção a longo prazo, mesmo com eventuais soluços. Barsi acredita que comprar ações é a mesma coisa que comprar negócios reais (leia esse artigo).
  • Ênfase Setorial: Luiz Barsi é amplamente conhecido por seu Método BEST (Bancos, Energia, Saneamento/Seguros, Telecomunicações), que oferece uma diretriz setorial clara para a seleção de ações. Décio Bazin, embora não tenha proposto um acrônimo similar, focava mais nos indicadores financeiros individuais da empresa (como yield e endividamento) e na liquidez do papel no mercado.
  • Nível de Endividamento: Bazin era mais explícito ao definir um limite para o endividamento, sugerindo um índice Dívida Bruta/Patrimônio Líquido inferior a 0,5. Barsi, ao focar na solidez e perenidade das empresas de seus setores preferidos, implicitamente busca companhias com boa saúde financeira, o que geralmente inclui um endividamento controlado, mas sem um número tão rigidamente definido em sua popularização.
  • Reação a Notícias: Bazin recomendava a venda imediata das ações em caso de notícias negativas que pudessem comprometer fundamentalmente os resultados da empresa. Barsi, com sua visão de sócio de longo prazo e foco no “projeto empresarial”, pode demonstrar uma tolerância maior a ruídos de curto prazo, desde que os fundamentos da empresa e do setor permaneçam intactos a seu ver.

Para facilitar a visualização dessas nuances, a tabela abaixo compara os principais critérios de Décio Bazin e Luiz Barsi:

CritérioDécio BazinLuiz Barsi
Foco PrincipalCash Yield (Dividendos)Renda Passiva com Dividendos (Carteira Previdenciária)
Dividend Yield Mínimo6% ao ano6% ao ano
EndividamentoBaixo (DB/PL < 0.5)Empresas sólidas (implicitamente baixo endividamento)
Notícias / Setores PerenesVender com notícias ruins. Foco na liquidez.Foco em setores perenes (Método BEST).
Cálculo Preço TetoDividendo Anual​ / 0,06 ou DY Médio × 16,67Dividendos Projetados (ou média 5−6 anos) / 0,06
Filosofia de Venda/ManutençãoVender se DY < 6% por 2 semestres. Pragmatismo.“Buy and Hold” forte, foco na quantidade de ações e no projeto empresarial.

Compreender essas convergências e divergências permite ao investidor não apenas escolher um método, mas potencialmente combinar os aspectos mais relevantes de cada um para forjar uma estratégia pessoal de como calcular o preço teto de uma ação e construir sua carteira de investimentos.

Construindo seu Futuro com Ações

Ao longo deste artigo, exploramos em profundidade como calcular o preço teto de uma ação, mergulhando nos ensinamentos atemporais de dois gigantes do investimento brasileiro: Décio Bazin e Luiz Barsi. A capacidade de determinar um valor máximo justo a ser pago por uma ação, com base em seu potencial de geração de dividendos, emerge não apenas como uma técnica, mas como uma filosofia de investimento que prioriza o valor, a renda e a segurança.

Recapitulando os aprendizados chave, vimos que tanto Bazin quanto Barsi, apesar de nuances em suas abordagens, compartilham um núcleo comum: a busca por renda consistente através de dividendos, a paciência como virtude indispensável, a disciplina para seguir critérios predefinidos e a visão de se tornar um verdadeiro sócio de empresas sólidas e perenes. O legado de Décio Bazin, imortalizado em “Faça Fortuna com Ações”, nos ensina a importância do cash-yield e de critérios rigorosos de seleção e manutenção. Luiz Barsi, o “Rei dos Dividendos”, nos inspira com sua “carteira previdenciária” e o foco na acumulação de participação em empresas de setores essenciais.

É fundamental reiterar que o preço teto, embora uma ferramenta poderosa, deve ser utilizado com discernimento. Ele é um excelente ponto de partida, um filtro quantitativo que auxilia na identificação de potenciais barganhas, mas sua eficácia é maximizada quando complementado por uma análise fundamentalista abrangente, que considere os múltiplos aspectos da saúde financeira e das perspectivas futuras da empresa.

O verdadeiro “segredo” compartilhado por Bazin e Barsi não reside apenas em uma fórmula matemática, mas em uma filosofia de investimento que valoriza a geração de riqueza real – materializada em lucros e dividendos distribuídos – em detrimento da especulação e da busca frenética por ganhos rápidos. Eles desmistificam a Bolsa de Valores, mostrando-a como um ambiente onde o investidor paciente, disciplinado e bem informado pode, de fato, construir um futuro financeiro sólido e próspero, e não apenas um cassino de apostas incertas. O cálculo do preço teto é a materialização dessa filosofia em uma ferramenta prática e acessível.

Ao dominar como calcular o preço teto de uma ação e internalizar os princípios de investimento em valor e foco em dividendos defendidos por Bazin e Barsi, o investidor ganha um ativo intangível de valor inestimável: autonomia. A capacidade de realizar suas próprias análises e tomar decisões embasadas reduz a dependência de “dicas” ou do “humor” do mercado, que, como Barsi adverte, podem facilmente se transformar em “zicas”. O conhecimento, aqui, é sinônimo de empoderamento, permitindo uma navegação mais segura e confiante no mercado de ações.

A jornada de investimentos é, de fato, uma maratona, não uma corrida de curta distância. A consistência na aplicação dos princípios, o aprendizado contínuo e o foco no longo prazo são os verdadeiros motores para “fazer fortuna com ações” ou para garantir uma “aposentadoria tranquila com dividendos”.

Portanto, o convite que se estende é para que você, leitor, comece (ou continue) a estudar as empresas, a aplicar o cálculo do preço teto em suas análises e a construir, passo a passo, sua carteira de investimentos. Aprofunde-se nas obras de Décio Bazin e nos diversos materiais disponíveis sobre a trajetória e os métodos de Luiz Barsi. Lembre-se: cada ação comprada abaixo de um preço teto bem fundamentado é um tijolo a mais na construção de seu futuro financeiro.

Espero que esse artigo tenha sido útil. Um grande abraço e até o próximo artigo.

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