Warren Buffett nos ensina mais uma nova valiosa lição. Até os melhores, um dia, serão substituídos. E no dia 03/05/2025 fez talvez a mais difícil tarefa de quem adora trabalhar: declarar sua aposentadoria. Vejamos agora, quem é Greg Abel, apontado por Warren Buffett como seu sucessor. Se Buffett sempre fez negócios, com as escolhas mais inteligentes e racionais possíveis, quem dirá para escolher seu sucessor.
I. Introdução: Uma Nova Era na Berkshire Hathaway
A. A Transição Histórica
A Berkshire Hathaway representa um caso singular de sucesso corporativo, um conglomerado vasto e diversificado meticulosamente moldado ao longo de seis décadas pela liderança icônica de Warren Buffett.1 O que começou como uma empresa têxtil em dificuldades foi transformado num gigante avaliado em mais de um trilhão de dólares, admirado globalmente por sua filosofia de investimento e desempenho consistente.4 Neste contexto, o anúncio feito por Buffett em maio de 2025, aos 94 anos, de que deixaria o cargo de CEO no final do ano, representa mais do que uma simples mudança de liderança; marca o fim de uma era definida por uma das figuras mais influentes do mundo financeiro.1
O sucessor designado é Greg Abel, um executivo canadense de 62 anos que tem sido uma figura central e um dos principais tenentes de Buffett na Berkshire Hathaway por mais de duas décadas.5 A escolha de Abel, embora antecipada por muitos observadores, formaliza a transição para a próxima geração de liderança numa empresa profundamente associada à personalidade e ao gênio de seu fundador. A magnitude desta transição reside no facto de que não se trata apenas da substituição de um CEO, mas da passagem do testemunho de um ícone que personificou a empresa e sua filosofia por sessenta anos. A seleção de Abel parece indicar uma estratégia focada na continuidade cultural e na solidez operacional, em vez de tentar replicar o carisma único e a lendária capacidade de investimento de Buffett, uma figura que muitos consideram insubstituível.7
B. O Legado de Buffett e Munger como Contexto
Para compreender plenamente a ascensão de Greg Abel e o futuro da Berkshire Hathaway sob sua liderança, é essencial considerar o contexto criado não apenas por Warren Buffett, mas também por seu parceiro de longa data, o falecido Charlie Munger. Munger, frequentemente descrito por Buffett como o “arquiteto” da Berkshire Hathaway moderna 18, desempenhou um papel crucial na formação da filosofia de investimento e da cultura corporativa da empresa. A sabedoria e as perspectivas de ambos os líderes oferecem um quadro valioso para analisar a adequação de Abel e os desafios que ele enfrentará.
Um elemento central deste legado é a cultura única da Berkshire Hathaway, caracterizada por uma estrutura descentralizada, um forte senso de integridade e uma confiança mútua entre a sede e as subsidiárias operacionais.8 A preservação desta cultura é vista como uma tarefa primordial para Abel, um ponto enfatizado tanto por Buffett quanto por Munger.11 A decisão de nomear Abel, portanto, reflete uma aposta na sua capacidade de ser o guardião destes princípios fundamentais que sustentaram o sucesso da Berkshire por tanto tempo.
A própria comunicação do plano de sucessão revela a dinâmica peculiar da Berkshire. O processo foi deliberado e de longo prazo, com Abel sendo preparado e avaliado por anos.1 No entanto, a confirmação pública inicial veio de forma não intencional por Munger em 2021 11, e o anúncio formal do timing da transição por Buffett em 2025 foi uma surpresa para o próprio Abel e para a maioria do conselho.1 Esta sequência – planejamento meticuloso seguido por um vazamento acidental e um anúncio final com um elemento de surpresa – sugere uma mistura de deliberação estratégica com o estilo de gestão pessoal e, talvez, um toque de teatralidade por parte de Buffett, mantendo o controle sobre a narrativa até ao último momento.
II. O Caminho para a Sucessão: A Trajetória de Greg Abel
A. Origens Humildes e Formação
Gregory Edward Abel nasceu em Edmonton, na província canadense de Alberta, em 1º de junho de 1962.5 Sua criação ocorreu numa família de classe trabalhadora, uma experiência que parece ter incutido nele uma forte ética de trabalho desde cedo.5 Abel relembrou essa época, afirmando: “It was a real working-class family where sometimes people had jobs, and sometimes they didn’t”.7 Durante a juventude, ele realizou diversos trabalhos para ganhar dinheiro, como coletar e devolver garrafas descartadas, encher extintores de incêndio na empresa de seu pai, distribuir panfletos e trabalhar como operário para uma empresa de produtos florestais.5 Essas experiências iniciais parecem ter solidificado sua crença no valor do esforço, como ele mesmo expressou: “I think hard work leads to good outcomes. In my schooling, in sports, and in my business positions, I learned that if I put in a lot of work and was well-prepared, then success would be more likely”.11
Academicamente, Abel obteve um bacharelado em contabilidade pela Universidade de Alberta em 1984.5 Ele também obteve a certificação como contador público (Certified Public Accountant – CPA) pelo American Institute of Certified Public Accountants (AICPA).9 Sua formação em contabilidade forneceu uma base sólida para sua futura carreira em finanças e gestão.
B. Início de Carreira Profissional (Pré-Berkshire)
Após a graduação, Abel iniciou sua carreira profissional trabalhando como contador na renomada firma de consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC).5 Parte de seu tempo na PwC foi passado no escritório de São Francisco.9 Em 1992, ele fez uma transição para o setor de energia, juntando-se à CalEnergy, uma empresa focada na produção de eletricidade geotérmica.5 Sua ascensão na CalEnergy foi notável, culminando na sua nomeação como presidente da empresa em 1999.8
C. Ascensão na Berkshire Hathaway Energy (BHE)
O ano de 1999 foi um ponto de inflexão na carreira de Abel e marcou sua entrada na esfera da Berkshire Hathaway. Naquele ano, a CalEnergy adquiriu a MidAmerican Energy e adotou o nome desta última. Crucialmente, a Berkshire Hathaway, liderada por Buffett, adquiriu uma participação controladora na MidAmerican Energy nesse mesmo ano.8 Embora a aquisição pela Berkshire tenha ocorrido em 1999, Abel já fazia parte da organização predecessora (CalEnergy) desde 1992.3
A expertise de Abel no setor de energia provou ser inestimável. Ele foi nomeado CEO da MidAmerican Energy em 2008 3, liderando a empresa por uma década.3 Sob sua liderança, os ativos de serviços públicos e energia da empresa prosperaram significativamente.7 Em 2014, para refletir a propriedade majoritária da Berkshire, a MidAmerican Energy foi renomeada para Berkshire Hathaway Energy (BHE).9 A longa e bem-sucedida gestão de Abel na BHE solidificou sua reputação dentro do conglomerado.
Em um movimento financeiro notável em junho de 2022, Abel vendeu sua participação pessoal de 1% na Berkshire Hathaway Energy por US$ 870 milhões.9 Poucos meses depois, em outubro de 2022, ele investiu uma parte substancial desse capital na própria holding, comprando 168 ações Classe A da Berkshire Hathaway por aproximadamente US$ 68 milhões.9 Esta sequência de transações pode ser vista como um realinhamento estratégico dos interesses financeiros de Abel. Ao vender sua participação na subsidiária BHE (lembrando que já era visto como sucessor de Buffett desde 2021) e comprar ações da Berkshire Hathaway, ele eliminou qualquer potencial conflito de interesse percebido e alinhou diretamente seu patrimônio ao sucesso geral do conglomerado, um passo simbólico e financeiro importante para o futuro líder da empresa.
D. Vice-Presidência e Responsabilidades Ampliadas
O reconhecimento formal da importância de Abel dentro da estrutura mais ampla da Berkshire Hathaway veio em janeiro de 2018. Ele foi nomeado Vice-Presidente do Conselho da Berkshire Hathaway, responsável pelas operações não relacionadas a seguros (non-insurance operations), e também foi nomeado para o conselho de administração da empresa.7
Nesta função de vice-presidente, Abel assumiu a supervisão de um portfólio vasto e diversificado de negócios da Berkshire. Suas responsabilidades passaram a incluir subsidiárias icônicas como a ferrovia BNSF, as marcas de varejo Dairy Queen e See’s Candies, a fabricante de calçados Brooks Running, a gigante de pisos Shaw Industries, a joalheria Borsheims, além de dezenas de outras empresas nos setores de manufatura, varejo e transporte.4 Coletivamente, essas empresas empregam quase 400.000 pessoas em todo o mundo.11
Além da supervisão operacional, Abel começou a assumir gradualmente responsabilidades crescentes na alocação de capital, uma das funções mais críticas e zelosamente guardadas por Warren Buffett.1 Essa delegação progressiva de uma tarefa tão central foi um claro sinal da profunda confiança que Buffett depositava em Abel e preparou o terreno para sua eventual sucessão como CEO. A trajetória de Abel ilustra um modelo de desenvolvimento de liderança interna na Berkshire, onde o sucesso comprovado e profundo numa unidade operacional chave (BHE) serviu como trampolim para responsabilidades mais amplas no nível do conglomerado, privilegiando resultados tangíveis e conhecimento operacional. Sua formação inicial em contabilidade 9 e sua extensa carreira no complexo setor de energia 7 provavelmente forjaram uma abordagem de liderança focada na disciplina financeira, análise rigorosa e compreensão profunda das operações – qualidades altamente valorizadas na cultura pragmática da Berkshire.5
Tabela 1: Linha do Tempo: Marcos da Carreira e Sucessão de Greg Abel na Berkshire Hathaway
Ano | Evento Chave |
1962 | Nascimento em Edmonton, Canadá |
1984 | Graduação na Universidade de Alberta |
1992 | Ingressa na CalEnergy (posteriormente MidAmerican/BHE) |
1999 | Berkshire adquire controle da MidAmerican; Abel torna-se presidente da CalEnergy |
2008 | Torna-se CEO da MidAmerican Energy |
2014 | MidAmerican renomeada para Berkshire Hathaway Energy (BHE) |
2018 (Jan) | Nomeado Vice-Presidente do Conselho (Operações Não-Seguradoras) da Berkshire |
2021 (Maio) | Identificado publicamente como sucessor após comentário de Munger |
2025 (Maio) | Buffett anuncia formalmente a transição de Abel para CEO no final do ano |
III. O Aval do Oráculo: Warren Buffett sobre Greg Abel
As declarações de Warren Buffett ao longo dos anos, e especialmente no período que antecedeu o anúncio formal da sucessão, fornecem insights cruciais sobre sua avaliação de Greg Abel. Os elogios de Buffett concentram-se consistentemente em qualidades operacionais, ética de trabalho e capacidade de decisão, mais do que em tentar posicionar Abel como um clone de seu próprio gênio de investimento.
A. Confiança na Ética de Trabalho e Capacidades Fundamentais
Buffett expressou repetidamente sua admiração pela dedicação e capacidade de trabalho de Abel. Numa observação reveladora, ele comparou a ética de trabalho de Abel com a sua própria, afirmando com humor: “It’s working way better with Greg Abel than with me, because I don’t want to work as hard as he works”.17 Esta citação, embora espirituosa, sublinha a confiança de Buffett no compromisso e na energia que Abel traz para a gestão dos negócios.
Além disso, Buffett enfatizou a sorte da Berkshire em poder contar com Abel para a sucessão. Ele declarou que a Berkshire era “so damn lucky” por ter Abel pronto para assumir o comando.11 Essa expressão de gratidão reflete uma profunda convicção na adequação de Abel para o cargo. Buffett também elogiou publicamente a abordagem prática de Abel na gestão das diversas empresas da Berkshire, destacando sua capacidade de melhorar os resultados mesmo em unidades que já apresentavam alto desempenho.1 Essas avaliações apontam para um reconhecimento das habilidades de liderança e da visão estratégica de Abel como fundamentais para o futuro da empresa.8
B. Endosso da Capacidade de Decisão e Ação
Um dos elogios mais significativos de Buffett diz respeito à capacidade de Abel de tomar decisões cruciais e agir de forma decisiva, especialmente em momentos de oportunidade. Comparando Abel ao seu parceiro de longa data, Charlie Munger, Buffett afirmou que, quando a Berkshire se encontra “knee-deep” (imersa) em oportunidades, “Greg has vividly shown his ability to act at such times as did Charlie.”.1 Esta comparação com Munger, conhecido por sua perspicácia e capacidade de ir direto ao cerne das questões, é um endosso particularmente forte. Sugere que Buffett via em Abel não apenas um gestor competente, mas alguém com o discernimento e a coragem necessários para tomar decisões de alocação de capital em grande escala, uma qualidade essencial para liderar a Berkshire.
Essa confiança na capacidade de decisão de Abel foi reforçada pela declaração de Buffett de que ele teria a “final word” (palavra final) em todas as decisões futuras da Berkshire, abrangendo operações, alocação de capital e qualquer outro aspecto da gestão.1 Buffett também mencionou que, nas áreas que Abel já supervisionava, ele nunca sentiu a necessidade de intervir ou reverter suas decisões 22, indicando um histórico de confiança e autonomia já estabelecido.
C. A Formalização da Sucessão e Expectativas
O momento culminante do endosso de Buffett ocorreu durante a reunião anual de acionistas em maio de 2025, quando ele anunciou formalmente sua recomendação para que Abel se tornasse CEO. Suas palavras foram diretas: “The time has arrived where Greg should become the CEO of the company at year-end and I want to spring that on the directors effectively and give that as my recommendation.”.1 Ele expressou confiança de que o conselho aprovaria sua recomendação por unanimidade.11
Numa demonstração notável de confiança, Buffett chegou a fazer uma previsão ousada, embora talvez hiperbólica, sobre o futuro sucesso de Abel: “Greg will be more successful than I have been, and if I said otherwise, my nose would grow.”.8 Embora deva ser interpretada com cautela, essa declaração serve como um poderoso voto de confiança público.
Buffett também delineou seu próprio papel futuro, indicando que permaneceria por perto (“hang around”) e poderia ser útil em algumas situações, mas deixou claro que a autoridade final pertenceria a Abel.1 Para solidificar seu compromisso e confiança na nova liderança, Buffett também afirmou categoricamente que não tinha intenção de vender nenhuma de suas ações da Berkshire Hathaway.1 A decisão de Buffett de conceder a Abel a “palavra final” enquanto ele próprio ainda está presente representa uma transferência de poder deliberada e invulgarmente clara, projetada para consolidar a autoridade de Abel e garantir uma transição suave antes da saída definitiva de Buffett.
IV. A Perspectiva do Arquiteto: Charlie Munger sobre Liderança e Abel
Charlie Munger, falecido em novembro de 2023 aos 99 anos 19, foi muito mais do que o vice-presidente da Berkshire Hathaway; ele foi o parceiro intelectual de Warren Buffett por décadas e, nas palavras do próprio Buffett, o “arquiteto” da estrutura e filosofia da empresa moderna.18 Sua perspetiva sobre liderança, investimento e sobre Greg Abel é, portanto, fundamental para entender a sucessão.
A. A Filosofia Mungeriana e a Cultura Berkshire
A influência de Munger na trajetória da Berkshire é imensurável. Foi ele quem notoriamente convenceu Buffett a evoluir para além da abordagem estrita de “value investing” de Benjamin Graham (comprar negócios medíocres a preços excelentes) para a filosofia que define a Berkshire hoje: comprar “wonderful businesses purchased at fair prices” (negócios maravilhosos comprados a preços justos).18 Munger aconselhou Buffett a “abandon everything you learned from your hero, Ben Graham. It works but only when practiced at small scale.”.30
A filosofia de Munger, que permeia a cultura da Berkshire, baseia-se em vários princípios-chave:
- Pensamento Multidisciplinar: Munger defendia a aquisição de conhecimento de diversas áreas (psicologia, física, história, etc.) para criar um “latticework of mental models” (rede de modelos mentais) que permitisse uma tomada de decisão mais robusta.30 Ele dizia: “If you skillfully follow the multidisciplinary path, you will never wish to come back.”.34
- Racionalidade e Evitar Erros: O foco não era ser brilhante, mas evitar a estupidez. “It is remarkable how much long-term advantage people like us have gotten by trying to be consistently not stupid, instead of trying to be very intelligent.”.31 A inversão (“Invert, always invert”) era uma ferramenta chave: pensar primeiro no que se quer evitar.18
- Paciência e Espera: Munger enfatizava que a maior parte do retorno vem da paciência e da capacidade de manter bons investimentos por longos períodos. “The big money is not in the buying and selling, but in the waiting.”.30 Ele acreditava que as grandes oportunidades são raras e exigem preparação e paciência para serem aproveitadas.34
- Círculo de Competência: Entender os limites do próprio conhecimento era crucial.31 “I think Warren and I know the edge of our competency better than other people do.”.34
- Integridade e Ética: Munger acreditava que bons negócios e ética andam de mãos dadas.18 “Good businesses are ethical businesses,” afirmou ele.30 A reputação é um ativo valioso.31
- Aprendizado Contínuo: Munger via Buffett e a si mesmo como “máquinas de aprendizado”.18 Ele aconselhava: “Spend each day trying to be a little wiser than you were when you woke up.”.32
Esta filosofia fornece o quadro intelectual e moral dentro do qual a liderança da Berkshire opera e, implicitamente, dentro do qual Abel é esperado operar.
B. A Avaliação Direta de Munger sobre Abel
Munger expressou sua alta consideração por Greg Abel em ocasiões importantes. Já em 2015, anos antes da confirmação pública da sucessão, Munger classificou Abel (juntamente com Ajit Jain, líder das operações de seguros) como um talento de elite. Ele afirmou que ambos eram “proven performers who would probably be under-described as ‘world-class'”.5 Esta avaliação precoce vinda de Munger, conhecido por sua franqueza e altos padrões, indica que Abel era identificado como um executivo de calibre excecional e um potencial sucessor há muito tempo, reforçando a ideia de um planejamento de sucessão deliberado e de longo prazo.
No entanto, o comentário mais citado e talvez mais significativo de Munger sobre Abel veio em 2021, durante a reunião anual de acionistas online. Ao discutir a sucessão, Munger inadvertidamente revelou o nome do sucessor ao afirmar: “Greg will keep the culture.”.11 Esta declaração, vinda do “arquiteto” da cultura da Berkshire, foi interpretada como o endosso definitivo. Focava não apenas na competência de Abel, mas na sua capacidade de preservar a essência da empresa – sua estrutura descentralizada, sua ética e seu foco no longo prazo. Para Munger, a manutenção da cultura única da Berkshire era o critério fundamental para a sucessão, e ele via Abel como a pessoa capaz de garantir essa continuidade. Este endosso funcionou como uma garantia para os acionistas e stakeholders de que os princípios fundamentais da empresa estariam em boas mãos.
V. Estilo de Liderança e Perspectivas Futuras
À medida que Greg Abel se prepara para assumir o cargo de CEO, emergem contornos de seu estilo de liderança e das expectativas para o futuro da Berkshire Hathaway sob seu comando.
A. Acuidade Operacional e Abordagem de Gestão
Abel construiu uma reputação interna como um operador “sharp, no-nonsense” (perspicaz, direto ao ponto), dotado de excepcionais instintos para negócios.7 Ele é consistentemente elogiado por sua perspicácia estratégica, integridade e profundo conhecimento das operações, particularmente nos setores de energia e transportes, onde passou grande parte de sua carreira na Berkshire.11 Fontes descrevem-no como um questionador perceptivo, que examina minuciosamente as métricas financeiras e busca entender profundamente os negócios que supervisiona.5
Espera-se que seu estilo de gestão seja mais “hands-on” ou “ativo”, especialmente no que diz respeito às operações, em comparação com a abordagem tradicionalmente mais “laissez-faire” de Buffett.8 O próprio Abel, quando questionado sobre sua abordagem à gestão das subsidiárias, respondeu: “More active”.17 No entanto, isso não implica uma microgestão, mas sim um envolvimento mais direto na análise estratégica e operacional.
Essa abordagem é corroborada por executivos de diversas subsidiárias da Berkshire. Troy Bader, CEO da Dairy Queen, destacou os instintos de Abel: “When I think about Greg, he not only has high business acumen, but he has really high business instincts… Warren has that intuition, but Greg has a lot of it as well.”.7 Chris Kelly, CEO da HomeServices of America, elogiou sua capacidade de estimular o pensamento estratégico: “Abel’s questions ensure you are thinking through directives and plans as a company… You come away smarter from having a conversation with him.”.17 Este perfil sugere um líder que combina o respeito pela autonomia cultural da Berkshire com uma abordagem operacional mais analítica e engajada. O sucesso de Abel provavelmente dependerá de sua capacidade de equilibrar a preservação da independência das subsidiárias com a busca por eficiências e sinergias onde fizer sentido.
B. Preservando a Cultura Descentralizada
Uma expectativa central e explícita para a liderança de Abel é a preservação da cultura única da Berkshire Hathaway.8 Conforme encapsulado na frase de Munger, “Greg will keep the culture” 11, espera-se que ele mantenha a estrutura descentralizada, a ênfase na autonomia das subsidiárias, a integridade e a confiança mútua que definem o modelo Berkshire.
A natureza descentralizada da empresa tem implicações práticas. É amplamente esperado que Abel continue a residir em Des Moines, Iowa, onde liderou a BHE por muitos anos e onde sua família está estabelecida (ele é conhecido por ter treinado as equipas de hóquei e futebol de seus filhos).7 Não há necessidade operacional premente para que ele se mude para a modesta sede da Berkshire em Omaha, Nebraska.7
C. Desafios e Expectativas
Suceder uma lenda como Warren Buffett acarreta desafios monumentais. Ninguém, nem mesmo dentro da Berkshire, espera que Abel replique o histórico de investimento de Buffett ou seu status de ícone cultural.8 O próprio tamanho da Berkshire Hathaway tornou-se um desafio significativo; encontrar aquisições ou investimentos grandes o suficiente para impactar significativamente os resultados do conglomerado é cada vez mais difícil.3
Um dos maiores desafios operacionais para Abel será gerenciar o enorme e crescente caixa da Berkshire, que atingiu um recorde de US$ 347,7 bilhões no primeiro trimestre de 2025.3 Decidir como alocar esse capital de forma eficiente – seja através de aquisições, investimentos em ações, recompra de ações ou mesmo o início de um dividendo (algo que a Berkshire historicamente evitou) – será uma tarefa central e altamente escrutinada.3
Abel também terá que navegar pela adaptação da Berkshire a um ambiente de negócios em constante mudança, incluindo desafios globais como tensões comerciais e flutuações nas taxas de juros, tudo isso enquanto preserva os princípios fundamentais que definiram o sucesso da empresa.4 Além disso, ele assumirá a supervisão direta das operações de seguros – embora com o apoio contínuo do especialista Ajit Jain 12 – e da estratégia de investimento do vasto portfólio de ações da Berkshire, áreas onde Buffett teve um papel mais direto.4
O maior teste para Abel, portanto, pode não ser replicar o gênio de investimento de Buffett, mas sim gerenciar eficazmente a imensa complexidade e escala da Berkshire atual. Seu histórico operacional robusto é seu maior trunfo para enfrentar esse desafio.4 A continuidade de Ajit Jain na supervisão dos seguros e a expectativa de que Howard Buffett (filho de Warren) assuma o cargo de presidente não-executivo para ajudar a preservar a cultura 3 sugerem uma estrutura de liderança de apoio, formando um triunvirato projetado para complementar as habilidades de Abel e garantir estabilidade durante a transição.12
VI. Conclusão: Continuidade e Evolução na Berkshire Hathaway
A. Recapitulação da Preparação de Abel
A nomeação de Greg Abel como sucessor de Warren Buffett na Berkshire Hathaway não é uma decisão apressada, mas o culminar de um processo longo e deliberado. A trajetória de Abel dentro da organização, desde sua entrada via CalEnergy/MidAmerican em 1992 até sua ascensão a CEO da BHE e, posteriormente, a Vice-Presidente do Conselho responsável por vastas operações de não-seguradoras, demonstra uma preparação profunda e um conhecimento íntimo do funcionamento interno do conglomerado.7 Sua experiência operacional comprovada, particularmente no complexo setor de energia, e a confiança progressivamente depositada nele por Buffett e Munger ao longo de mais de duas décadas, solidificaram sua posição como o herdeiro aparente.1
B. O Peso dos Endossos
As citações diretas de Warren Buffett e Charlie Munger, detalhadas neste relatório, são mais do que meros elogios; elas funcionam como endossos estratégicos que definem as expectativas para a liderança de Abel. Buffett destacou a ética de trabalho de Abel 17, sua capacidade de agir decisivamente em momentos de oportunidade (comparando-o a Munger) 1, e expressou confiança absoluta em sua capacidade de ter a “palavra final” na alocação de capital.1 Munger, por sua vez, classificou Abel como “world-class” 5 e, crucialmente, afirmou que ele seria capaz de “manter a cultura”.11 Coletivamente, esses endossos validam a escolha de Abel não apenas por sua competência, mas por sua adequação cultural e sua capacidade percebida de preservar os princípios fundamentais da Berkshire.
C. O Futuro da Berkshire sob Abel
A liderança de Abel enfrentará desafios significativos, inerentes à escala massiva da Berkshire, à dificuldade de encontrar grandes oportunidades de investimento e à inevitável comparação com seu lendário predecessor.3 A gestão eficiente do enorme caixa da empresa será um teste central.4 No entanto, Abel traz consigo pontos fortes consideráveis: profundo conhecimento operacional, uma reputação de disciplina e perspicácia, e a confiança explícita de Buffett e Munger. O modelo de negócios resiliente e a cultura descentralizada da Berkshire também fornecem uma base sólida.
É provável que a era Abel na Berkshire Hathaway seja caracterizada menos pela busca incessante por negócios transformacionais, como nos primeiros anos de Buffett, e mais pela otimização operacional, gestão disciplinada do vasto conglomerado existente e alocação prudente de capital. A evolução, em vez da revolução, parece ser o caminho mais provável.
Em última análise, a sucessão de Greg Abel pode ser vista como a institucionalização final do modelo Berkshire. O sucesso futuro da empresa dependerá menos do brilhantismo individual de um único líder e mais da força duradoura do sistema, da cultura e dos princípios estabelecidos por Warren Buffett e Charlie Munger. Abel não foi escolhido para ser o próximo Warren Buffett, mas sim para ser o guardião competente e dedicado desses princípios, garantindo a continuidade e a evolução estável da Berkshire Hathaway para a próxima geração. Sua seleção representa a aposta de que a própria estrutura e filosofia da Berkshire são agora robustas o suficiente para prosperar sob uma liderança operacionalmente sólida e culturalmente alinhada.
Espero que tenha gostado e aprendido algo com esse artigo.
Um grande abraço e até o próximo, Arlei Oliveira.

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- Who is Greg Abel, Buffett’s chosen successor? Can he continue the legend of the “Oracle of Omaha”? – LongPort, acessado em maio 4, 2025, https://longportapp.com/en/news/238635365
- Warren Buffett to ask board to make Greg Abel CEO of Berkshire Hathaway at year-end : r/investing – Reddit, acessado em maio 4, 2025, https://www.reddit.com/r/investing/comments/1ke021l/warren_buffett_to_ask_board_to_make_greg_abel_ceo/
- Warren Buffett to Step Down as Berkshire Hathaway CEO, Greg Abel Named Successor, acessado em maio 4, 2025, https://www.gurufocus.com/news/2827061/warren-buffett-to-step-down-as-berkshire-hathaway-ceo-greg-abel-named-successor
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